sexta-feira, 6 de abril de 2012


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Refletindo sobre a interdisciplinaridade

    A tese que procura defender a distinção entre ciências naturais e ciências sociais, no limiar do século XXI, não tem mais razão de ser. Entretanto, neste limiar de uma nova etapa esta discussão ainda não encontrou um espaço adequado para reflexão. A grande perplexidade, porém, é quando percebemos que o bolsão de resistência pode estar acantonado em ambientes universitários, onde o novo, o controverso deveria, naturalmente, encontrar espaços garantidos e, minimamente, ampliados para o sadio debate. Entretanto, o que temos percebido é que na contramão do desenvolvimento científico, fecham-se portas e garante-se uma estanqueidade forçada que asseguram feudos e privilégios individuais em detrimento aos avanços da ciências moderna. Nesta mesma linha de raciocínio, vale ressaltar a afirmação de Boaventura de Souza Santos ao afirmar que:

A distinção dicotômica entre ciências naturais e ciências sociais deixou de ter sentido e utilidade. Esta distinção assenta numa concepção mecanicista da matéria e da natureza a que contrapõe, com pressuposta evidência, os conceitos de ser humano, cultura e sociedade. Os avanços recentes da física e da biologia põem em causa a distinção entre o orgânico e o inorgânico, entre seres vivos e matéria inerte e mesmo entre o humano e o não humano. As característica da auto-organização, do metabolismo e da auto-reprodução, antes consideradas específicas dos seres vivos, são hoje atribuídas aos mesmos sistemas pré-celulares de moléculas.¹

   É preciso considerar que Ciência e Tecnologia são produtos do seu tempo. São produtos que foram viabilizados pela mente humana e não algo transcendental, criados à revelia da vontade humana. Ciência e Tecnologia são o produto de uma sociedade que pensa. Produto daquilo que supomos que ser, daquilo que valorizamos e queremos que seja reproduzido, daquilo que rejeitamos, que queremos eliminar, do que priorizamos, até do que desejamos esconder. Por fim, Ciência e Tecnologia refletem aquilo que nos organizamos socialmente para realizar, respaldando em nossas crenças, medos e convicção.

  Não é sem boa razão que em um projeto pedagógico de uma importante universidade brasileira está registrado: “Entender C&T, sem a crítica de nós mesmos, sem o esclarecimento daquilo em que ela resulta, é exercício cego”.


UFERSA: Mudar para Avançar!

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 ¹ Boaventura de Souza SANTOS. Um Discurso Sobre as Ciências, p. 61